quarta-feira, 9 de maio de 2012


Continuaçaõ, última parte:
3 ) O sentido do grão de trigo:
Na mística do Evangelho, a doação assume uma relevância central na experiência de fé. Doar é morrer para os desejos e conveniências humanas. Morrer como grão de trigo é anular sua vontade para que prevaleça a soberana vontade de Deus. Deus não é um espetáculo que nos enche de curiosidade. Essa é uma visão errada de Deus. Deus se revela em Cristo como o grande servo por amor. 
O grão de trigo parece insignificante, mas depois que ele é jogado debaixo da terra e morre, ele nasce, cresce e dá cachos com muitos grãos. Moídos, os grãos enchem as mesas de pão e sacia a fome da humanidade. Na rito da fé esse pão enche a vida d humanidade da seiva do céu.
Cristo é o grão de Deus A força do seu amor nos fascina e suscita, em nós, o desejo da imitação. Quanto mais nos imitamos a Cristo, recebemos a coragem audaciosa da oferta generosa e do serviço sem limite. Ofertar a vida é morrer pelo desejo de servir animado pela fascinação do dom de ofertar.
É preciso aprender a ofertar o que é significativo e edificante para o bem de todos. Não ofertar migalhas nem resto do nosso tempo. É nesse sentido que a força da redenção nasce da suprema oferta de Cristo na Cruz. Sua oferta é plena até na fagulha do pão eucarístico. Ali, está a plenitude da salvação.
A morte de Cruz não foi um fracasso e sim uma oferta. A liturgia por sua vez atualiza o mistério desta oferta de Deus na cruz, por isso ela é gratuidade fontal é uma fonte que se dá sem saber de si. É uma grandeza de fundo (ex o inicio do Rio amazonas.
 Quando nossa vida é vivida como oferta aos outros, ela se sorna uma grandeza de fundo. Os outros veem Jesus servidor em nosso jeito de servir. Por isso o ensinamento final de Jesus é este: “quem se apega a sua vida vai perdê-la”.
 São João no seu Evangelho, depois da narração da entrada em Jerusalém, refere uma série de afirmações pelas quais Jesus explica o essencial deste novo gênero de Reino. O que é essencial no reinado de Jesus? O serviço por amor e o amor serviço. “Quem quiser ser o maior seja o servo de todos” (Mc 10,43-44).
Jesus fez se servo até a oferta da vida na cruz. Esta é a referência suprema que nos leva à superação de nós mesmos. Renunciar algo de caráter pessoal é o ponto de partida para a oferta sem limites.
O ensinamento do Senhor sobre o grão de trigo que só dá fruto se morrer não é um ensinamento para ser contestado e sim para ser abraçado. Afinal, a Palavra de Deus é uma instancia didática e pedagógica. Acompanhada pela ação do Espírito Santo ela vai se tornando operante no coração do fiel.

Em seguida, o Senhor o fundamento da existência humana: «Quem tem amor à vida, perde-a, e quem doa, quem gasta  a sua vida neste mundo a serviço dos outros vai conservá-la para a vida eterna» (Jo 12, 25). Isto é, quem quiser conservar a sua vida para si, viver só para si próprio, tal pessoa perde a vida, porque a vida torna-se vazia e sem sentido. Afinal há mais alegria em dar que receber.

O abandono de si mesmo, na oferta gratuita e desinteressada em favor do outro, fazendo da própria vida e do nosso ministério um «sim» a Deus, é que torna nossa vida plena de sentido. A vida em abundância se dá no princípio do amor que leva ao serviço generoso.

Cristo nos chama para nós o sirvamos na sua Igreja, mesmo que seu chamado entre em contradição como nossos desejos pessoais. O serviço que exercemos  na comunidade eclesial deve nos ajudar a conhecer o Senhor na sua Palavra e torná-lo conhecido de todos.

Pensemos no gesto do lava-pés, ele disse que o que ele fez todos nós devíamos fazer. E quem se recusar lavar os pés e ser lavado não terá parte com ele.

Quando damos a Palavra e o corpo e sangue de Cristo às pessoas, nós não lhes lavamos os pés, lavamos o seu coração. Somos o meio pelo qual o Senhor entre na vida de cada um. Somos pessoas humanos exercendo a função dos anjos aqui na terra. Nós transportamos a arca da aliança, que é a Palavra da salvação.

Nós a levamos de casa em casa, de hospital em hospital, na UTI, de leito em leito. É belíssimo nosso ministério, pois onde quer que se encontre uma pessoa com fome de Deus, lá está o rosto da Igreja, o sorriso, o olhar, o toque carinhoso da Igreja na pessoa de cada um de nós. Tudo isso é o exercício da caridade, sem a qual nossa fé é morta.

A caridade é o amor operante, é a fé em ação, é o verdadeiro significado de amar. Amar significa sair de si mesmo, dar-se, não querer possuir-se a si mesmo, não dobrar-se sobre si próprio, mas olhar em frente e ver Jesus no outro e dizer é por ti Jesus que faço isso agora.

Quando penso na Última Ceia e no Calvário, percebo que ele fez muito mais por mim e por nós. Se amar é sair de si, na cruz a entrega do Filho é consumada, ali se deu o verdadeiro êxodo de si. Êxodo sem retorno até o grito da alma no abismo do abandono supremo.

Conclusão
Gostaria de concluir esta reflexão dizendo ou sublinhando três aspectos:

1. De tudo o que ouvimos, certamente, estamos convencidos de que o serviço oblativo é a forma de se tornar ícone e epifania do Cristo servidor.

2. A Igreja do Senhor é julgada na pessoa de cada batizado, mas é na pessoa de cada um de nós que ela aparece como servidora.

3.   Que o Senhor aumente nosso desejo de vê-lo e de permanecer com ele para sermos como ele. Que ele nos dê a graça de servi-lo com alegria na pessoa de cada irmão. Amém!

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