Continuaçaõ, última parte:
3 ) O
sentido do grão de trigo:
Na mística do Evangelho, a doação assume uma
relevância central na experiência de fé.
Doar é morrer para os desejos e conveniências humanas. Morrer como grão de trigo é anular sua vontade para que prevaleça
a soberana vontade de Deus. Deus não é um espetáculo que nos enche de
curiosidade. Essa é uma visão errada de Deus. Deus se revela em Cristo como o
grande servo por amor.
O grão de trigo parece insignificante, mas depois que
ele é jogado debaixo da terra e morre, ele nasce, cresce e dá cachos com muitos
grãos. Moídos, os grãos enchem as mesas de pão e sacia a fome da humanidade. Na
rito da fé esse pão enche a vida d humanidade da seiva do céu.
Cristo é o grão de Deus A força do seu amor nos
fascina e suscita, em nós, o desejo da imitação. Quanto mais nos imitamos a Cristo,
recebemos a coragem audaciosa da oferta generosa e do serviço sem limite.
Ofertar a vida é morrer pelo desejo de servir animado pela fascinação do dom de
ofertar.
É preciso aprender a ofertar o que é significativo e
edificante para o bem de todos. Não ofertar migalhas nem resto do nosso tempo. É
nesse sentido que a força da redenção nasce da suprema oferta de Cristo na
Cruz. Sua oferta é plena até na fagulha do pão eucarístico. Ali, está a
plenitude da salvação.
A morte de Cruz não foi um fracasso e sim uma oferta. A
liturgia por sua vez atualiza o mistério desta oferta de Deus na cruz, por isso
ela é gratuidade fontal é uma fonte que se dá sem saber de si. É uma grandeza
de fundo (ex o inicio do Rio amazonas.
Quando nossa
vida é vivida como oferta aos outros, ela se sorna uma grandeza de fundo. Os
outros veem Jesus servidor em nosso jeito de servir. Por isso o ensinamento final de Jesus é este: “quem
se apega a sua vida vai perdê-la”.
São João no seu Evangelho, depois da narração
da entrada em Jerusalém, refere uma série de afirmações pelas quais Jesus
explica o essencial deste novo gênero de Reino. O que é essencial no reinado de
Jesus? O serviço por amor e o amor serviço. “Quem quiser ser o maior seja o
servo de todos” (Mc 10,43-44).
Jesus fez se servo até a oferta
da vida na cruz. Esta é a referência suprema que nos leva à superação de nós mesmos.
Renunciar algo de caráter pessoal é o ponto de partida para a oferta sem
limites.
O
ensinamento do Senhor sobre o grão de trigo que só dá fruto se morrer não é um
ensinamento para ser contestado e sim para ser abraçado. Afinal, a Palavra de
Deus é uma instancia didática e pedagógica. Acompanhada pela ação do Espírito
Santo ela vai se tornando operante no coração do fiel.
Em seguida,
o Senhor o fundamento da existência humana: «Quem tem amor à vida, perde-a, e
quem doa, quem gasta a sua vida neste
mundo a serviço dos outros vai conservá-la para a vida eterna» (Jo 12,
25). Isto é, quem quiser conservar a sua vida para si, viver só para si
próprio, tal pessoa perde a vida, porque a vida torna-se vazia e sem sentido. Afinal
há mais alegria em dar que receber.
O abandono
de si mesmo, na oferta gratuita e desinteressada em favor do outro, fazendo da
própria vida e do nosso ministério um «sim» a Deus, é que torna nossa vida plena
de sentido. A vida em abundância se dá no princípio do amor que leva ao serviço
generoso.
Cristo nos
chama para nós o sirvamos na sua Igreja, mesmo que seu chamado entre em
contradição como nossos desejos pessoais. O serviço que exercemos na comunidade eclesial deve nos ajudar a
conhecer o Senhor na sua Palavra e torná-lo conhecido de todos.
Pensemos no
gesto do lava-pés, ele disse que o que ele fez todos nós devíamos fazer. E quem
se recusar lavar os pés e ser lavado não terá parte com ele.
Quando damos
a Palavra e o corpo e sangue de Cristo às pessoas, nós não lhes lavamos os pés,
lavamos o seu coração. Somos o meio pelo qual o Senhor entre na vida de cada
um. Somos pessoas humanos exercendo a função dos anjos aqui na terra. Nós
transportamos a arca da aliança, que é a Palavra da salvação.
Nós a
levamos de casa em casa, de hospital em hospital, na UTI, de leito em leito. É
belíssimo nosso ministério, pois onde quer que se encontre uma pessoa com fome
de Deus, lá está o rosto da Igreja, o sorriso, o olhar, o toque carinhoso da
Igreja na pessoa de cada um de nós. Tudo isso é o exercício da caridade, sem a
qual nossa fé é morta.
A caridade é
o amor operante, é a fé em ação, é o verdadeiro significado de amar. Amar
significa sair de si mesmo, dar-se, não querer possuir-se a si mesmo, não
dobrar-se sobre si próprio, mas olhar em frente e ver Jesus no outro e dizer é por ti Jesus que faço
isso agora.
Quando penso
na Última Ceia e no Calvário, percebo que ele fez muito mais por mim e por nós.
Se amar é sair de si, na cruz a entrega do Filho é consumada, ali se deu o
verdadeiro êxodo de si. Êxodo sem retorno até o grito da alma no abismo do abandono
supremo.
Conclusão
Gostaria de
concluir esta reflexão dizendo ou sublinhando três aspectos:
1. De tudo o
que ouvimos, certamente, estamos convencidos de que o serviço oblativo é a
forma de se tornar ícone e epifania do Cristo servidor.
2. A Igreja
do Senhor é julgada na pessoa de cada batizado, mas é na pessoa de cada um de
nós que ela aparece como servidora.
3. Que o Senhor aumente nosso desejo de vê-lo e
de permanecer com ele para sermos como ele. Que ele nos dê a graça de servi-lo com
alegria na pessoa de cada irmão. Amém!
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