Com o simbolismo do rito da imposição das cinzas, inicia-se o Tempo da Quaresma. Na tradição litúrgica latina, impõem-se as cinzas sobre a cabeça de quem deseja recebê-las e o ministrante repete de forma alternativa como se entoasse o refrão de um antifonário: “lembra-te que tu és pó e em pó te tornarás” e ou “convertei-vos e crede no Evangelho”. Esse apelo é o constitutivo do itinerário para a Páscoa de Cristo, o maior evento do cristianismo, a maior festa da Igreja. Essas palavras soam mais forte que um convite. Elas constituem uma exortação, um apelo amoroso do Senhor, o Esposo, ao coração da Igreja, a sua amada. Dizer “recorda-te que tu és pó” é levar cada pessoa a pensar na sua própria condição de fragilidade humana, mas não é uma condição desprezível, um pó insignificante, como disse o Papa Bento XVI: “somos pó, mas um pó amado por Deus”.
Segundo o Papa Leão Magno, o jejum não significa só privar-se de alimento, “mas sobretudo abster-se do pecado”. A oração é a luz da alma, assim dizia outro antigo escritor sagrado. “Ela nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranqüiliza o coração”. A oração torna o orante resplandecente. Ela ilumina nosso agir e faz com que nossas ações sejam o prolongamento do agir de Deus no mundo. A caridade é fruto da oração e é a forma visível do cristão atualizar o agir de Deus na história.
Porém, a reconciliação com a criação só será possível se, antes de tudo, o homem se reconciliar e estiver em paz com o Criador. Sem uma sincera reconciliação com Deus Pai e Criador não há reconciliação ecológica e, por conseguinte, não haverá fraternidade e vida no planeta. A terra está gemendo por uma ética do cuidado e o mar está gritando para que a criatura crente e pensante seja mais profética e audaciosa na defesa de toda a criação. Que o itinerário quaresmal nos faça mais humanos, mais sensíveis e mais cuidadosos. Assim, a Quaresma será kairós, isto é, tempo impregnado da presença de Deus.
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