quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


Homenagem a Zilda Arns


Pe. Joaquim Cavalcante

É tarde. O avião sobrevoa o espaço da Alemanha que está toda coberta de neve. Do alto, vejo os Alpes que parecem noivas subindo a escadaria de uma catedral. Minden, às margens do rio Wesser, é o meu destino. Agora, da janela do quarto de onde escrevo este texto contemplo um lago todo congelado. Eis a noticia: Zilda Arns é uma das vítimas daquele terremoto. Coração estremecido como o solo do Haiti. A alma desolada se dobra em prece. A dor vai se infinitizando no silêncio da fé. Não interrogo a Deus. No horizonte da parusia, fala a esperança que antecipa respostas.
Plangem os sinos do Brasil. Uma explosão de soluços. Crianças acenam, chegou a hora de despedir. Zilda, mulher altaneira, sorriso de anjo, existência marcada pelo bem que realizou.
Historia de encantamento que inspira o desejo da imitação.
Haiti, palco configurativo do sofrimento, teste universal para a fé dos que crêem.
Chão que acolheu seu corpo tombado no lugar do Brasil sua Pátria natal.
Lá era, também, sua Pátria, palco da causa nobre que abraçou. As grandes personalidades morrem sempre abraçadas com a causa que amam. Sua vida, lâmpada fulgurante consumida pela conquista do feliz. Sua serenidade era uma perene declaração de combate à morte que ameaçava o mundo infantil.
Lembro do nosso último encontro em Itumbiara, guardo no sacrário do coração suas palavras de encorajamento.
Zilda Arns, estrela fulgurante de primeira grandeza, irmã do Cardial Arns, o Profeta que a “idade silenciou”.
Zilda, mãe das crianças, ouvidos atentos aos prantos e lamentos e aos gritos de além fronteiras.
Zilda, discípula de Jesus, seu tesouro foi sempre o Evangelho, sua Pátria, o mundo, como dizia Dioneto. Seu exemplo corre por entre as veias do coração da humanidade entristecida, sem a sua presença. Sem o suor do seu ideal não conheceríamos os calos da sua vida de doação.
Zilda, irmã maior no protagonismo da Pastoral da Criança. Ideal contundente ultrapassando as galáxias. Sorriso aberto, horizonte de esperança na serenidade do seu rosto maternal. Sua ausência intensifica o vazio, em meio ao clarão da esperança, há uma grande tristeza. “Essa tristeza de menino sem brinquedo só é menor que a solidão do ancião”. Já dizia José Sebastião, o grande poeta do Tocantins.
Zilda, doação que salvou vidas, restituiu esperanças perdidas e consolidou projetos.

Pe. Joaquim Cavalcante é professor de teologia e Pároco de São Pedro e São Paulo.



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