Homenagem a Zilda
Arns
Pe. Joaquim Cavalcante
É tarde. O avião sobrevoa o
espaço da Alemanha que está toda coberta de neve. Do alto, vejo os Alpes que
parecem noivas subindo a escadaria de uma catedral. Minden, às margens do rio
Wesser, é o meu destino. Agora, da janela do quarto de onde escrevo este texto
contemplo um lago todo congelado. Eis a noticia: Zilda Arns é uma das vítimas
daquele terremoto. Coração estremecido como o solo do Haiti. A alma desolada se
dobra em prece. A dor vai se infinitizando no silêncio da fé. Não interrogo a
Deus. No horizonte da parusia, fala a esperança que antecipa respostas.
Plangem os sinos do Brasil. Uma
explosão de soluços. Crianças acenam, chegou a hora de despedir. Zilda, mulher
altaneira, sorriso de anjo, existência marcada pelo bem que realizou.
Historia de encantamento que
inspira o desejo da imitação.
Haiti, palco configurativo do
sofrimento, teste universal para a fé dos que crêem.
Chão que acolheu seu corpo
tombado no lugar do Brasil sua Pátria natal.
Lá era, também, sua Pátria, palco
da causa nobre que abraçou. As grandes personalidades morrem sempre abraçadas
com a causa que amam. Sua vida, lâmpada fulgurante consumida pela conquista do
feliz. Sua serenidade era uma perene declaração de combate à morte que ameaçava
o mundo infantil.
Lembro do nosso último encontro
em Itumbiara, guardo no sacrário do coração suas palavras de encorajamento.
Zilda Arns, estrela fulgurante de
primeira grandeza, irmã do Cardial Arns, o Profeta que a “idade silenciou”.
Zilda, mãe das crianças, ouvidos
atentos aos prantos e lamentos e aos gritos de além fronteiras.
Zilda, discípula de Jesus, seu
tesouro foi sempre o Evangelho, sua Pátria, o mundo, como dizia Dioneto. Seu
exemplo corre por entre as veias do coração da humanidade entristecida, sem a
sua presença. Sem o suor do seu ideal não conheceríamos os calos da sua vida de
doação.
Zilda, irmã maior no protagonismo
da Pastoral da Criança. Ideal contundente ultrapassando as galáxias. Sorriso
aberto, horizonte de esperança na serenidade do seu rosto maternal. Sua
ausência intensifica o vazio, em meio ao clarão da esperança, há uma grande
tristeza. “Essa tristeza de menino sem brinquedo só é menor que a solidão do
ancião”. Já dizia José Sebastião, o grande poeta do Tocantins.
Zilda, doação que salvou vidas,
restituiu esperanças perdidas e consolidou projetos.
Pe. Joaquim Cavalcante é professor de teologia e Pároco de São Pedro e São Paulo.
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