sábado, 3 de novembro de 2012

Lucernário, a linguagem fascinante e contagiante do mistério.

                                                 Pe. Joaquim Cavalcante




Era a noite do dia 27 de outubro. Mais de 40 jovens se inscreveram para participar do Acampamento com os Universitários. Um misto de inquietação, aventura, sonhos, lazer, silêncio, oração e contemplação.
Quando o sol recolhia seus últimos raios, nós deixávamos o ruído da cidade de Itumbiara rumo a uma pequena e silenciosa chácara. Tudo era festa, alegria, expectativa e novidade. A tagarelice dos universitários se unia à voz das cigarras e dos pássaros formando, assim, uma sinfonia de vozes no colo da noite que lentamente se tornava mais escura.
O momento de armar as tendas foi uma aventura inédita.  Festa para uns, dificuldades para outros, interação e solidariedade entre todos. Tudo ia ficando melhor com a presença da Irmã Maria Eugênia.
Em pouco tempo, o terreno da chácara ficou povoado de tendas coloridas evocando o cenário dos acampamentos do povo de Israel durante a travessia do deserto rumo à terra prometida.
Conta-nos o Livro do Êxodo que “tendo saído de Sucot, acamparam-se em Etam, à entrada do deserto. E o Senhor estava diante deles, de dia numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar” (Ex 13, 20-21).
Aquela coluna de fogo estava bem refigurada durante a celebração do lucernário. O lucernário é uma liturgia marcada pela luz seguida da proclamação da Palavra de Deus. Isto é, seguida da Lectio Divina. Que, por sua vez,  é um jeito orante de ler, meditar e contemplar a palavra de Deus. É uma antiga forma de oração centrada na leitura da Palavra de Deus. LECTIO em latim quer dizer leitura. O lucernário é um rito que fala pela linguagem da luz.
A luz na liturgia nos remete para o mistério da criação. Na narrativa criacional do Livro do Gênesis, a luz é o primeiro elemento que Deus cria depois do céu e da terra. “Disse Deus, haja a luz e houve a luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas” (Gen 1,3-4).
A luz é a superação das trevas. Por isso ela está associada a Cristo, luz do mundo e à fé que ilumina nossa vida. Por meio da fé, vemos a luz que é Cristo e iluminamos o mundo com Cristo.
O lucernário nos remete para o coração do mistério que é Deus, a luz em plenitude. Muitos jovens vivenciaram com profundidade e seriedade o rito do lucernário. Fiquei edificado e dou testemunho do que vi.  Alguns contemplavam a chama da vela com tamanha reverência que pareciam ter entre as mãos o esplendor do eterno e inefável mistério.
Estou convicto de que o jovem que busca as coisas do alto sabe contemplar as coisas da terra e tirar delas grandes lições para sua vida. Contemplar é a forma profunda de expressar os sentimentos que não sabemos verbalizar. Há sentimentos que só expressamos mediante o silêncio da fé. No silêncio da fé e da contemplação dizemos a Deus o que já fomos, o que fizemos e o que somos e ouvimos Deus dizer no intimo do nosso  coração: “meu filho, minha  filha, para mim importa o que você será a partir desse momento. Eu preciso de você, eu conto com você”.
No mundo, há muitos inquietos e falantes, porque são poucos os que são poucos os que sabem se expressar com a linguagem do silêncio da fé. Os que não sabem fazer silêncio normalmente se ocultam e se escondem nos ruídos e gritarias. Na verdade, somos filhos e frutos de uma sociedade frenética. Por isso mesmo, urge resgatar a mística do silêncio e da contemplação. Parabéns aos que já iniciaram essa divina aventura!


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