domingo, 20 de fevereiro de 2011

Conferencias: Filosofia e Educação

Pensar é o eixo da aprendizagem I
Pe. Joaquim Cavalcante

Logo depois do golpe de 1964, o ensino brasileiro limitou-se ao técnico e a história em narrar fatos muitas vezes adulterados e destorcidos. A filosofia foi literalmente banida da Universidade, história e sociologia não eram bem vistas, inaugurava-se uma produção intelectual monitorada.
O tempo foi passando. Muitas mudanças foram acontecendo. Hoje aqui estou para falar sobre algo que, naqueles anos, era quase proibido. O objeto da nossa reflexão é “pensar o eixo da aprendizagem”. É algo pertinente. Não tenho a pretensão de solucionar um problema e sim de contribuir levantando algumas inquietações. Uma delas é a distância entre as ciências.  
Sempre pensei que devia haver maior aproximação entre historia, sociologia, teologia e filosofia. Pois “quanto mais sociológica a história se torna, mais histórica a sociologia se faz” (Carr, citado por Antonio Joaquim Severino, A filosofia da Educação: buscando o sentido histórico e social da educação, in Educação e Filosofia, 10, julho/dezembro 1996, 73). E quanto mais se aprofunda o horizonte teológico, mais filosoficamente o homem pode compreender Deus que é o “totalmente outro” e, na visão cristã, fez-se totalmente homem. Este é o mistério que celebramos no Natal, festa da encarnação do Verbo.
Isso reitera a condição histórico-sosocial do ser humano, amplia seu horizonte, alarga sua hermenêutico e dilata seu pensamento. Creio que o grande desafio para o pensador passa pela necessidade de transcender verdades construídas a partir de substância sem consistência. O filósofo, o historiador, o teólogo e outros podem  contribuir para desmistificar os modelos absolutos de verdades apócrifas impetradas no sulco da história.
Aos poucos, reconquistou-se o espaço da universidade, apesar da desconsideração para com o professor e a educação. Essa tríplice realidade (universidade, professor e educação) constitui um conjunto de potencialidades e estão proporcionalmente interligadas. A função dessas forças paradoxalmente não é ensinar a pensar e sim incita o exercício de pensar.
Quem ensina a pensar pode induzir o outro a repetir suas próprias formas arcaicas ou modernas de ver e interpretar a realidade. Ciência não se estuda se faz. Fazer ciência é construir o saber, estudar ciência é repetir o que já se conhece. O papagaio, por exemplo, não estuda, ele só repete, por isso nunca será cientista.
A construção do pensamento autônomo é um exercício árduo.  É algo que exige nada menos que a superação da preguiça de pensar.
O primeiro grande desafio no processo gradativo da construção e consolidação do saber cientifica é superar a comodidade do senso comum. Pensar o óbvio e discursar sobre ele sem se deixar interpelar por ele não exige esforço de ninguém. O pensamento autônomo começa aparecer quando nos sentimos interpelados e ousamos interpelar o objeto ou a realidade que se descortina à nossa frente.
O pensamento revestido da autonomia consciente passa ser força motora para o agir. Pois pensar e não agir frente à realidade que pede mudança é dizer: eu sou um ser pensante entorpecido e engessado. Sou fadado a morrer asfixiado pela irresistível angustia por não fazer nada. (Continuaremos esta reflexão numa próxima oportunidade).
Pe.  Joaquim Cavalcante: Pároco de São Pedro e São Paulo e professor de teologia.

2 comentários:

  1. Fiquei muito feliz com o seu blog, vou fazer o trabalho de repassar ao máximo de amigos possíveis. Já falei do sr para mtas pessoas e agora elas poderão ter acesso ao pensamento do Pe. Joaquim Cavalcante.

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  2. Adorei a reflexão sobre o tempo de Quaresma, vou repassar para os meus amigos. A nossa paróquia é muito rica com seus pensamentos.

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