Pe. Joaquim Cavalcante
Era a noite do dia 27 de outubro. Mais de 40 jovens se inscreveram para participar do Acampamento com os Universitários. Um misto de inquietação, aventura, sonhos, lazer, silêncio, oração e contemplação.Quando o sol recolhia seus últimos raios, nós deixávamos o ruído da cidade de Itumbiara rumo a uma pequena e silenciosa chácara. Tudo era festa, alegria, expectativa e novidade. A tagarelice dos universitários se unia à voz das cigarras e dos pássaros formando, assim, uma sinfonia de vozes no colo da noite que lentamente se tornava mais escura.O momento de armar as tendas foi uma aventura inédita. Festa para uns, dificuldades para outros, interação e solidariedade entre todos. Tudo ia ficando melhor com a presença da Irmã Maria Eugênia.Em pouco tempo, o terreno da chácara ficou povoado de tendas coloridas evocando o cenário dos acampamentos do povo de Israel durante a travessia do deserto rumo à terra prometida.Conta-nos o Livro do Êxodo que “tendo saído de Sucot, acamparam-se em Etam, à entrada do deserto. E o Senhor estava diante deles, de dia numa coluna de nuvem, para lhes mostrar o caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar” (Ex 13, 20-21).Aquela coluna de fogo estava bem refigurada durante a celebração do lucernário. O lucernário é uma liturgia marcada pela luz seguida da proclamação da Palavra de Deus. Isto é, seguida da Lectio Divina. Que, por sua vez, é um jeito orante de ler, meditar e contemplar a palavra de Deus. É uma antiga forma de oração centrada na leitura da Palavra de Deus. LECTIO em latim quer dizer leitura. O lucernário é um rito que fala pela linguagem da luz.A luz na liturgia nos remete para o mistério da criação. Na narrativa criacional do Livro do Gênesis, a luz é o primeiro elemento que Deus cria depois do céu e da terra. “Disse Deus, haja a luz e houve a luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas” (Gen 1,3-4).A luz é a superação das trevas. Por isso ela está associada a Cristo, luz do mundo e à fé que ilumina nossa vida. Por meio da fé, vemos a luz que é Cristo e iluminamos o mundo com Cristo.O lucernário nos remete para o coração do mistério que é Deus, a luz em plenitude. Muitos jovens vivenciaram com profundidade e seriedade o rito do lucernário. Fiquei edificado e dou testemunho do que vi. Alguns contemplavam a chama da vela com tamanha reverência que pareciam ter entre as mãos o esplendor do eterno e inefável mistério.Estou convicto de que o jovem que busca as coisas do alto sabe contemplar as coisas da terra e tirar delas grandes lições para sua vida. Contemplar é a forma profunda de expressar os sentimentos que não sabemos verbalizar. Há sentimentos que só expressamos mediante o silêncio da fé. No silêncio da fé e da contemplação dizemos a Deus o que já fomos, o que fizemos e o que somos e ouvimos Deus dizer no intimo do nosso coração: “meu filho, minha filha, para mim importa o que você será a partir desse momento. Eu preciso de você, eu conto com você”.No mundo, há muitos inquietos e falantes, porque são poucos os que são poucos os que sabem se expressar com a linguagem do silêncio da fé. Os que não sabem fazer silêncio normalmente se ocultam e se escondem nos ruídos e gritarias. Na verdade, somos filhos e frutos de uma sociedade frenética. Por isso mesmo, urge resgatar a mística do silêncio e da contemplação. Parabéns aos que já iniciaram essa divina aventura!